sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

A culpa é do trabalho

Tenho observado com bastante atenção e perplexidade o comportamento do comum mortal no local de trabalho, e cheguei a algumas conclusões.

A primeira delas, é que a maior parte das pessoas ao invés de estar a trabalhar, a contribuir para o crescimento do pib, para a riqueza da empresa e do patrão, está sem fazer ponta de corno pensando no que vai fazer depois de sair, pensando no jantar, pensando na linda masturbação que ira produzir ao anoitecer, ou até mesmo a escrever textos para um blog.

Tudo começa quando entram no escritório, com aquela típica cara de quem esteve a noite toda a construir uma ponte para o Faial da Terra, e que só fez uma pausa às 3:30 para preparar o almoço do dia seguinte. Ao mesmo tempo, enquanto examina escrupulosamente os colegas que já chegaram, pensa com os seus botões:

-“…quem vai aguentar mais um dia neste inferno!? olha-me só aquela vaca… está toda pintada! é assim que pensa que vai comer o patrão? Puta… e aquele anormal que está à três dias com a mesma roupa!? Que porcos selvagens sem higiene! E o Martins!? Hum… para variar está atrasado… raios partam o Martins! nunca mais é despedido! quero tanto por as mãos no seu material de escritório, e naquela cadeira com rodinhas muhahaahhahahahahhahahahahhahahahh… ok controla-te.”

Tudo isto termina com um doce e ternurento: “Bom dia da manhã eh eh”.

Vamos ser sinceros, ninguém gosta de trabalhar… após estarmos sentados 30 segundos já olhamos 351 vezes para o relógio, e nem 2 segundos se passaram. Mas o momento mais hilariante no meio de tanto degredo é quando entra o patrão…

O nosso corpo endireitasse na cadeira, até a própria respiração altera-se… o nosso rosto muda. Metemos a nossa melhor cara de preocupação, de empenho, de trabalho árduo! Geralmente frangimos a testa e cerramos os olhos… batemos com mais força nas teclas… sente-se tensão no ar… afinal de contas no nosso intimo sabemos que não estamos a fazer ponta de corno e temos medo de sermos apanhados. É a segunda vez que digo ponta de corno. Enquanto todo esse processo ocorre o nosso instinto sobrevivência leva-nos automaticamente a fazer algo fundamental para a preservação do nosso posto de trabalho: fechar o Facebook. Calores, suores, frios, quentes, com natas, invadem o nosso corpo. Os únicos pensamentos que temos são iguais aos que tínhamos no secundário, quando não queríamos que a professora nos mandasse ler: “Por favor patrão, por favor para aqui não! Não venhas para aqui! não olhes para mim! A MERDA DO FACEBOOK AINDA NÃO FECHOU … A MERDA DO FACEBOOK AINDA NÃO FECHOU!! PORQUÊ!?PORQUÊ!? DEUSES!!! DEUSES PODEROSOS AJUDEM-ME!!!ESTA MERDA DO CHROME ENGATOU!!! DESLIGA! DESLIGA! DESLIGA! FODA-SE!! VOU SER DESPEDIDO O QUE VOU FAZER A MINHA VIDA!? VENDER GELADOS? PROSTITUIR-ME? EMIGRAR? IMIGRAR? FODA-SE QUALQUER UM DOS DOIS!!... Olha afinal está fechado, safei-me eh eh”.

Infelizmente nem sempre corre bem, a conspurcação do chrome nem sempre fecha! Encrava, fica a pedir para enviar relatórios de erros! A bolinha do rato roda, roda, e o Facebook está transparente la atrás como se estivesse a dizer “Ele chega e vais-me fechar é? É? Não fecho! Vou te assombrar! Vou-lhe mostrar o que estás a fazer o dia todo AHAHAHAHHAHAHANANANANÃOOOOOOOOOOO!! maldito sejas gestor de tarefas!!!!”

Normalmente este terror acaba sempre da mesma maneira: nós fixados no ecrã a ouvir o chamamento do senhor! Ouvimos uma carinhosa voz, acompanhada por arpas, contudo não percebemos bem o que diz…será grego? francês? árabe? madeirense? Não sabemos… Tudo está branco a nossa volta! Será que morremos? Será esta a famosa luz que todos falam às portas da morte? Um flash da nossa vida passa-nos à frente, sentimo-nos quentes, satisfeitos, a nossa missão no mundo está cumprida. Repentinamente, sentimos um estrondo! Será o demónio? Estaremos a ser arrastados para o fogo do inferno? Não é apenas o patrão a bater-nos nas costas:

-“Acorda Martins! Envia-me um resumo da tese “Prendeu o “piu-piu” no zíper? Procure um alicate!””

O primeiro grande auge do dia é a hora de almoço. A bendita hora de almoço. Bom…provavelmente estou a exagerar, não passa de uma hora em que estamos sozinhos no carro com uma marmita nas pernas a pensar no quão deprimente e desmotivante foi a nossa manhã…estamos sentados 30 segundos já olhamos 351 vezes para o relógio, e desta vez já passaram 64 minutos! batemos com força no volante, suspiramos, as lagrimas vêm aos olhos…afinal de conta estamos atrasados e não fomos ao café comprar uma raspadinha e jogar no placard.

As horas passam e o fim do dia aproxima-se…ansiedade, impaciência, inquietação o que têm em comum? São sinónimos, mas também transmitem na perfeição o que sentimos nestes últimos minutos de trabalho. Sim faltam apenas 5 minutos para o sofrimento terminar, 5 minutos separam-nos da liberdade, da felicidade, finalmente tudo o que sonhamos de manhã vai se concretizar! Correr, passear o cão a beira-mar, beber um copo numa esplanada enquanto o sol nos queima o rosto, dar um passeio no campo, tirar retratos com o por de sol ao fundo, um jantar à luz das velas, uma noite perfeita a ver estrelas. 5 minutos nos separam do verdadeiro Euromilhões da vida.

Mas espera lá… faltam 5 minutos PARA AS 2 DA TARDE NÃO PARA AS 5!!!!

Vou ali à Holanda pedir uma vacina para o sono, adeus fieis seguidores.

Prof. Zé Kalanga

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